“Não escolhas a tua próxima posição… escolhe o teu próximo chefe!”
Este é um conselho que se dá com muita frequência a quem está à procura de dar o seu próximo passo na carreira…

Trata-se, pois, de um conselho bem-intencionado e com uma boa lógica subjacente…
Desde logo, a lógica de que, ter a oportunidade de trabalhar com os melhores… com quem nos possa ensinar… com quem nos cuide e desafie fazendo-nos crescer… revelando a melhor versão de nós próprios… é um privilégio que todos gostariam de ter, ao menos uma vez na vida!
Por isso é tão tentador que, quando procuramos fazer o nosso caminho, nos deixemos guiar por esta máxima de “escolher o nosso Chefe”…
Apesar disto… este é um conselho que não dou a nenhuma das pessoas que me procuram como mentor!… Mais do que isso… é algo que desaconselho vivamente!
Mas então porquê?…
Que espécie de contrassenso este de, reconhecer tantas virtudes na relação com um “bom Chefe” e, ao mesmo tempo, desaconselhar a que se faça disto o móbil principal da busca da próxima posição, de alguém que esta a fazer o seu caminho profissional?
A razão é muito simples e prática!
Simplesmente porque este conselho… tão viável há 20 anos… não se enquadra, nos dias de hoje, com os ciclos de carreira nas organizações!
Senão vejamos…
Os tempos mudaram e a forma como as carreiras evoluem ao longo do tempo sofreram uma transformação profunda!
Se, no tempo do meu pai, a figura do chefe era capaz de acompanhar uma equipa de trabalho por toda a sua vida profissional…
Se no tempo em que comecei a trabalhar os ciclos de promoção eram de 5 a 10 anos…
Hoje, as carreiras são muito mais dinâmicas e os ciclos de promoção variam entre 18 meses e 3 anos!…
Esta é a realidade das organizações… uma realidade em que as pessoas, sobretudo aquelas que demonstram potencial de liderança, estão constantemente a ser desafiadas de modo a acelerar o seu crescimento e realizar todo o seu potencial…
Por isso vemos hoje, executivos cada vez mais novos… e até CEOs de grandes multinacionais que atingem essa posição antes de completar 40 anos!…
Ora, neste contexto, basear o nosso próximo passo profissional em quem será o nosso próximo chefe é muito arriscado!…
A menos que entremos para a posição ao mesmo tempo que ele… o mais provável é que em poucos meses o chefe se tenha ido e nos quedamos com um emprego que não escolheríamos se tivéssemos sabido antes!…
Por isto entendo que, a reflexão sobre a posição que devemos procurar, deve ser feita com base noutros critérios… digamos que mais duradouros!…
Assim o meu conselho aponta para uma reflexão assente em 3 pilares de decisão:
- A função em causa está relacionada com o meu propósito pessoal?
Esta primeira pergunta é a mais importante de todas… Perceber, a cada passo, se estamos a ser fieis connosco próprios… se vamos ser felizes durante aquela etapa… se contaremos com orgulho o nosso contributo para algo em que acreditamos…
Este é um elemento fundamental e o maior predictor de êxito que a experiência me ensinou!
- A Função em causa faz sentido para alcançar o meu objectivo de longo prazo?
O segundo pilar é mais estratégico… Se tenho um objectivo de longo prazo é bom que o mantenha sempre no horizonte… para que a cada passo possamos estar mais próximos de o realizar!
Com isto não quero dizer que todos os passos nos devem aproximar hierárquicamente da posição que queremos no longo prazo… ao contrário centrar o percurso na hierarquia é, não raras vezes, uma ratoeira que nos aprisiona a meio do caminho. “Mais próximo do objectivo” pressupõe antes que em cada passo se aprenda algo… se adquira alguma experiência… que fará parte do skillset que necessitamos construir com vista ao objectivo final…
Foco na aprendizagem e não no cargo é outro dos factores de êxito que aprendi!
- Quem vou encontrar no caminho?
Ou seja… quem fará parte da minha equipa… quem serão os meus interlocutores preferenciais… que Network interna ou externa poderei desenvolver… e por fim… claro… quem será o meu chefe!
Sim o chefe sempre aparece… como não aparecer… como poderíamos não considerar a possibilidade de trabalhar, ainda que por tempo indeterminado, com alguém que admiramos?…
No entanto, ao considerar este aspecto como um benefício adicional e não como o centro da escolha… garantimos que, mesmo que o chefe venha a mudar, continuaremos a ser felizes na função que escolhemos para mais um ciclo do nosso crescimento profissional!
E vocês, que pensam sobre isto?
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#SociedadePortugal; #Mentorship; #CareerPlanning
Olá Hugo,
Como sabes a maior parte do meu percurso profissional foi numa PME de ambiente familiar. Curiosamente nunca me deparei com este tipo de “planeamento” ou de pensar o próximo passo da carreira quando voltei aos estudos em 2008 com o intuito de provocar uma mudança no meu percurso profissional.
Num país em que grande parte das empresas são PMEs familiares, como achas que deveria ser vista a questão da progressão de carreira (aka promoção), quando as estruturas não suportam este tipo de visão? Questiono apenas pelo facto de que existem muitas empresas, boas empresas, mas sem este tipo de estrutura interna que permita “sonhar” um pouco.
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Olá Fred! O teu comentário é, efectivamente, real!… O que é pena!… uma vez que independentemente da dimensão da empresa, a possibilidade de sonhar é o que nos faz correr o “extra-mille”!… Mas está aqui um bom tema para um texto… como trazer esta visão de gestão de pessoas para as PMEs!… Deixo-te mesmo este desafio!… queres reflectir sobre isto e passar a papel para a nova secção de “Autores Convidados”?
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Olá Hugo,
Agradeço imenso o convite. Parece-me um bom desafio!
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