Nas últimas semanas temos vindo a assistir a uma espécie de dança política entre o Governo, os partidos à sua esquerda e o Governador do banco de Portugal, Mário Centeno.
O tópico é o código do trabalho e a vontade, do PCP e do Bloco, de reverterem todas as medidas implementadas aquando da intervenção da Troika em Portugal. Vontade á qual se opõe Mário Centeno por entender que este tem sido um “sinal muito visível da resiliência da economia portuguesa” assim como tem sido a “âncora da recuperação”.1
No meio, o Governo, que necessita da esquerda para fazer passar mais um orçamento de estado, mas que não pode (ou não deve) ignorar os avisos do anterior ministro das finanças.
Esta não é uma situação nova para António Costa. Afinal a vontade de alguns em reverter tudo o que cheira a Troika é algo com que tem tido que lidar desde que assumiu a liderança do Governo.
E, diga-se, em boa medida por culpa própria já que não resistiu ao discurso de diabolização da austeridade durante a sua escalada e chegada ao poder! O discurso anti-Troika pegou nos eleitores… talvez por ser mais fácil acreditar num culpado externo para os “males do povo” em vez de aprender com os erros e corrigir caminho!
Por isso é que penso ser importante procurar manter a memória do que nos “levou á Troika” assim como do porquê de a termos tido entre nós porque, só assim, podemos evitar voltar a chamar esta ou outra Troika, outra vez com a corda na garganta!
Descansem que não vos vou maçar com teorias económicas complexas… nem sequer com a atribuição de culpas a este ou aquele governo!…

Vou-me resumir a um facto inquestionável… Em Março/Abril de 2011 Portugal estava na bancarrota!… Sem dinheiro nos cofres sequer para pagar salários nos meses seguintes e sem acesso aos mercados para contrair mais divida!
Foi isto que nos levou à Troika!…
A Troika não foi um “bicho papão” que entrou em Portugal sem pedir licença para nos empobrecer e, ela própria, enriquecer à nossa custa!…
A Troika, composta por três entidades internacionais (Fundo Monetário Internacional – FMI, Comissão Europeia – CE e Banco Central Europeu – BCE, foi chamada pelo Estado Português para prestar um plano de ajuda e assistência financeira a Portugal. Plano esse, que pressupunha um empréstimo de 78 Mil Milhões de Euros.
Ora, para conceder o dito empréstimo de que necessitávamos como de pão para a boca, estas três entidades colocaram um conjunto de condições… as quais foram aceites pelo Governo português!
Parece-me, por isso, infantil a diabolização de uma entidade que veio cá, a nosso pedido, para nos salvar de algo muito pior do que aquilo que acabamos por, efectivamente, ter de viver!
Mas… do mesmo modo… e por contraposição, me parece primário o seu endeusamento!
Ou seja… a Troika veio porque nós a chamamos… impôs condições que nós aceitamos… mas… implementado o plano, ficou claro que muitas das condições impostas eram excessivas e não contribuíram para uma economia suficientemente saudável no momento da sua saída!… 2,3 A austeridade excessiva e a super protecção do sector financeiro parecem ser, disto, exemplos muito claros.
É, pois, muito importante que também isto se entenda… Nem tudo o que a Troika fez é maléfico e precisa de ser revertido imediatamente… Nem tudo o que a Troika fez é benéfico e por isso mesmo para defender a todo o custo!
Em Portugal tendemos a olhar para tudo de forma polarizada… ou somos contra ou somos a favor!… Pior ainda, em Portugal certos quadrantes escolhem se são a favor ou contra conforme se posiciona o seu adversário directo… tipo “se ele é a favor eu sou contra”… e vice-versa!
Na verdade, é esta polarização um dos principais bloqueios a que o país possa ter uma estratégia de fundo que sobreviva à alternância política entre os dois maiores partidos parlamentares.
E este é um dos principais factores de atraso da nossa economia. Nenhum país pode viver num zig zag estratégico em que, de cada vez que muda o governo, se desfaz para tonar a fazer!
É, pois, urgente que PS e PSD se ponham de acordo em relação a algumas linhas mestras de longo prazo para a nossa economia!
A história já mostrou que isto é possível… assim entramos no espaço económico europeu… assim vencemos crises pesadíssimas no passado.
Não… não estou a defender um governo de bloco central… nem estou a defender que PS e PSD pensem igual… o que estou a defender é que sejam, afinal, fiéis aos seus princípios sociais-democratas e europeístas… e que com base neles se entendam quanto a questões de fundo… ainda que continuem a divergir em tudo o resto.
Mas para isso, estes dois partidos necessitam de deixar de se comportarem como inimigos e sim como adversários… para isto, os seus militantes necessitam de deixar de se comportar como adeptos de um clube de futebol e sim como cidadãos exigentes, seja qual for a cor política de quem nos governa!
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- https://expresso.pt/economia/2021-06-16-Centeno-destaca-forte-e-rapida-recuperacao-deixa-avisos-sobre-moratorias-e-defende-que-nao-se-deve-mexer-na-legislacao-laboral-65148e17
- https://www.jornaldenegocios.pt/economia/ajuda-externa/detalhe/os_10_erros_da_troika_em_portugal
- https://www.jornaldenegocios.pt/economia/ajuda-externa/detalhe/troika-nao-se-quer-viver-com-ela-nao-se-pode-viver-sem-ela