“Coming back to where you started is not the same as never leaving” – Terry Pratchett
Quando recebi o convite do Hugo por mensagem do Linkedin fiquei um pouco receosa – o que partilhar e como… ”Mas Hugo, tens a certeza que queres mesmo que partilhe algo no teu Blog?” Aceitei momentos depois de me ter respondido “É tranquilo…o que procuro não é uma obra de Fernando Pessoa… mas um texto real… sobre uma vivência real”. E assim, aqui estou eu hoje a partilhar um pouco da minha história…
Lembro-me de com 4-5 anos ter começado a viajar pela Europa com os meus pais. Todos os anos, o nosso ritual se repetia – no início do ano começava a escolha dos destinos, algures na primavera compravam-se os guias Michelin que nos ajudariam a chegar aos locais propostos e depois em Agosto era partir à aventura. São estas as primeiras memórias que tenho de conhecer o mundo para além fronteiras e foi com estas que fui construindo os meus sonhos e certezas de que um dia iria viver fora de Portugal.

A idade adulta chegou e eu, já na faculdade continuei sempre com vontade de ter “uma experiência” fora – os interrails aconteceram (na realidade conheci o meu marido precisamente num comboio algures na Europa) e eu continuava a sonhar com “viver numa outra cidade” para alargar horizontes.
E assim foi em 2006 – depois de terminado o meu curso e de um curto período de experiência profissional em território nacional (com uma experiência profissional também na Holanda), parti à aventura. E que aventura! Fui com mala por 5 meses e acabei por ficar 14 anos! Londres era o destino para o meu estágio e entre um entusiasmo e um frio na barriga lá fui eu com um guia de A a Z (literalmente o livro que acompanhava qualquer novato numa cidade como Londres na era pré google maps!) para uma cidade que hoje conheço como a palma da minha mão. As oportunidades profissionais foram-se sucedendo e eu fui ficando…o meu namorado, hoje marido, juntou-se a mim e fomos caminhando em conjunto delineando a nossa história naquela cidade.
As experiências ganhas com a saída têm um valor intangível – os amigos vindos dos quatro cantos do mundo, a oportunidade de fazer o meu MBA numa universidade com mais de 800 anos…conheci tantas pessoas interessantes com extraordinárias histórias de vida e isso tornou-me uma pessoa mais tolerante, mais empática, mais genuína. É óbvio que existem também algumas experiências difíceis, mas no final o balanço é mais do que positivo!
Muitas vezes me perguntaram, amigos que tinham escolhido ficar em Portugal, se não tinha saudades de casa…e a minha resposta era “Claro que sim!”…mas existiam outras coisas que me faziam querer continuar.
Entretanto regressei a Portugal em 2019 com o pequeno Santiago…e que sensação estranha esta…de repente continuava a sentir saudades de casa…mas afinal onde é a minha casa?
Percebi que o meu coração tinha ficado dividido, e que as memórias construídas ao longo dos anos num outro país tinham-se consolidado em algo muito mais forte – afinal a sensação de pertença que tinha inicialmente a Portugal por motivos óbvios era possível replicá-la fora do “ninho” onde tinha nascido. Para isso contribuíram todas as experiências e conquistas que tivemos num outro país que adotamos como nosso.
A vida passou a dividir-se entre Lisboa e Londres até ao começo da pandemia, uma vez que o meu marido tinha abraçado também ele um novo desafio na cidade Inglesa. A nossa casa passou a estar entre dois mundos diferentes, não contraditórios, mas complementares. A cada um vamos buscar diferentes experiências e energias que contribuem também para a educação do nosso filho.
Não sei o que o futuro me reserva, a mim e à família, mas há uma certeza que tenho: aquelas primeiras viagens de carro pela Europa moldaram a minha personalidade e quem sou hoje. Tenho a agradecer aos meus pais o espírito de aventura – foi só o início do incentivo que sempre me deram para voar para onde quisesse…sem receio, com garra e determinação…e tenho a voz dos meus pais a dizer-me “Carolina, o que interessa é que sejas feliz, aqui ou noutro lugar qualquer”. Hoje em Portugal, amanhã, quem sabe…
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