“(…)Ah, que ninguém me dê piedosas intenções! Ninguém me peça definições! Ninguém me diga: “vem por aqui”! A minha vida é um vendaval que se soltou. É uma onda que se alevantou. É um átomo a mais que se animou… Não sei por onde vou, Não sei para onde vou, – Sei que não vou por aí. “
Excerto do poema “Cântigo Negro” de José Régio
Só sei que não vou por aí…!
Foi no segundo ano da Faculdade que tive a certeza do que queria fazer “o resto da minha vida”! Era por esta altura que no curso de Biologia começávamos a ter as cadeiras mais relacionadas com a área de investigação laboratorial e o meu fascínio por todo este mundo novo não me deixou qualquer dúvida sobre o que queria fazer: ia ser investigadora científica!
A partir daqui o caminho a trilhar ficou todo muito claro, e a seu tempo fui cumprindo cada uma das etapas: 1) escolher a área científica no último ano (feito); 2) realizar o estágio num laboratório reputado (feito); 3) terminar o curso com uma média simpática (para ser competitiva no concurso a bolsas de Doutoramento) (feito); 4) conseguir financiamento para o Doutoramento (via bolsa ou programa doutoral) (feito); fazer o Doutoramento numa universidade Estrangeira (grande parte das pessoas nesta área estavam a fazer esse percurso e a optar por instituições de enorme potencial – científico e financeiro) (feito).

Foi no segundo ano do Doutoramento que comecei a ter dúvidas sobre o que queria fazer “o resto da minha vida”! Era por esta altura que no Doutoramento começávamos a ter a responsabilidade por conduzir de forma independente o nosso projeto de investigação e a ser desafiados sobre o passo seguinte. E afinal… o caminho a trilhar a partir daqui começou a ficar preenchido de bifurcações, rotundas e alguns becos sem saída… Há medida que o tempo foi passando e o Doutoramento progredindo, as dúvidas deram lugar à certeza – não é isto que quero para mim.
Foi uma conclusão dura de chegar e até difícil de aceitar de certo modo: tinha feito tudo direitinho, há anos que estava dedicada a esta área e estava a cumprir todas as etapas. Além disso, fui acumulando experiência e conhecimento no e sobre o mundo académico para eventualmente ter que constatar que este mundo não mais me atraía, motivava e muito menos fascinava. E se chegar a esta conclusão foi difícil, não menos difícil foi perceber que nada sabia sobre o “mundo” para além da investigação. Na verdade, tinha sido mais confortável e até talvez mais fácil ter continuado a trilhar o caminho que tinha trilhado até então… mas de que vale o “conforto” quando deixamos de sonhar com o que vem a seguir?
Quando recentemente li um post neste blog sobre não deixar que a nossa experiência dite o nosso percurso (Link), confesso que a ideia por trás do texto me pareceu estranhamente familiar…!
E agora? Que vou fazer então? Estas eram apenas algumas das muitas perguntas para as quais não tinha resposta: preferes trabalhar numa empresa?, que tipo de empresa?, e em que funções?, que percursos profissionais tiveram as pessoas nessas funções?, que competências são necessárias?, onde existem essas oportunidades?, entre tantas outras questões. Encontrar respostas implicou responder às perguntas que realmente importavam: o que gostas de fazer?, gostarias de continuar a fazê-lo se fosse possível?, o que fazes bem?, e o que não fazes tão bem?. Foram muitos os meses de pesquisa e de conversas com todas as pessoas com quem conseguia falar. Na altura ficava sempre com a impressão que não estava a chegar a lado nenhum e que só ia acumulando informação mas haveria de vir a perceber que este processo foi na realidade crucial pois permitiu-me explorar livremente e sem partir de pressupostos e no fundo, encontrar (quase!) todas as respostas.
A passagem para Medical Affairs num laboratório farmacêutico não foi, contudo, linear. É extremamente difícil demonstrar que conseguimos acrescentar valor numa área inteiramente diferente daquela em que se baseia toda a nossa experiência. E foi também por isso que acabei por “dar uma volta maior” e aceitar uma posição de Medical Writer como o meu primeiro emprego (pois porque até aqui ainda não tinha tudo um em-pre-go). Na altura pareceu-me uma boa oportunidade para deixar o “mundo académico” e avançar para o “mundo empresarial” e foi por isso que o fiz. Esta decisão acabou por se revelar particularmente acertada, mas como em muitas coisas na vida, só mais tarde o sabemos. De fato a função de Medical Writer permitiu-me entre muitas outras coisas, contactar diretamente com a indústria farmacêutica – onde eu queria estar – para posteriormente conseguir fazer essa ponte.
A vida às vezes troca-nos as voltas e leva-nos a questionar muitas das nossas decisões, mas se estivermos dispostos a encontrar as respostas, sair do nosso “mundo” e abraçar o desconhecido, por muito desconfortável e difícil que seja, pode acabar por se revelar ser exatamente aquilo de que precisávamos. E agora que me encontro há 6 anos e muitos meses em Medical Affairs na indústria farmacêutica é difícil não dar por mim a sonhar com o que virá a seguir!
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