O grande drama de um Ser, que passa, 8 horas por dia, a escrever histórias para que os outros leiam, acerca de vidas que os outros têm, é ainda assim, podermos não ter a veia, a intuição e a assertividade de escrever algo sobre nós próprios!

E, ainda assim, fazê-lo de uma forma mais articulada, do que aquela que poderia resultar de uma conversa de café, solta, livre e sem sistematização.
Lembro-me do primeiro texto que pensei e que escrevi, estruturadamente, (já depois da fase “o que é a Primavera, para ti?), e fi-lo com 14 anos, numa Festa de Natal (do meu saudoso Agrupamento de Escuteiros, o XVIII, em Bragança), e fi-lo em Homenagem a Andrei Sakharov e da sua Companheira, Elena Bonner, que viviam mais um momento de provação do seu Amor e de resiliência ao poder soviético numa fase particularmente agreste, para os Oposicionistas ao regime.
A ida de Andrei Sackharov para a Colónia Penal do Arquipélago Goulag, cumprindo uma pena pesada, de consciência, que lhe foi imposta por um regime tirânico imoral e desumana, terá sido o primeiro grande momento de revolta relativo a um acontecimento social, à escala global.
Recordo-me que estava nervoso e que fiz questão de nada dizer, e a ninguém referir, o que ia ler!.
Mas também me recordo do efeito diferenciado que teve, nos meus Pais, e nos Pais dos outros e na direcção do Agrupamento. Um misto de precocidade para as questões do Amor, mas também uma consciência política em formação e uma percepção de que a nossa Vida, tem que ter Causas, tem que ter valores que nos estruturem a Vida, o Pensamento e o nosso Agir quotidiano.
Para mim, foi, um momento de intenso prazer e de raiva e que não tinha, outra interpretação que não a de, livremente expressar, a minha liberdade de pensamento, relativamente a uma situação que me tocava, e que sempre me marcou para toda a Vida; o Amor e a liberdade, e a sua constância em tudo aquilo que fazemos de forma quotidiana, que fazemos com a nossa Família e ao nosso Próximo, (que é o que mora ao fundo da nossa rua).
Essa atitude compassiva, emocional, não pode representar ou sequer significar o ser menos profissionais, ou ser menos rigorosos, ou ser menos firmes, enfim numa palavra, não significa, deixar de ser um profissional assertivo rigoroso e capaz de exercer os seus poderes com equanimiadade.
Ainda assim, tendo o mote, a oportunidade e o meio de poder escrever, sobre coisas que me são caras, deparo-me com ansiedade de um ecrã em branco cujo cursor persiste em não avançar demasiado, procurando na minha mente, uma profunda conexão, do presente, para com o passado, e de como aquele facto, aparentemente perdido há 40 anos, e só apenas ocasional, determinou tantas coisas na minha Vida e na forma como me relaciono com as Pessoas e com o Mundo.
Há muito tempo atrás, li uma fase de um grande empresário da zona do Porto, que rezava assim: “15 anos depois de terminar um curso, já ninguém faz aquilo para que foi formado”, assumindo o entendimento de que a evolução, aprendizagem e a nossa capacidade de transformação, encerram possibilidades de desenvolvimento pessoal, infindáveis.
Ao logo dos quase 30 anos de exercício contínuo da profissão de Advogado, e de uma Cidadania activa, olho com absoluta satisfação, para o facto de esta profissão me ter podido dar um Observatório para apreciar a natureza humana a realidade empresarial, e cruzar as duas com a linha do tempo, onde despontam crises, euforias, “contos de sereia” e “desastres anunciados”, que foram antecedidos, com laudos e gritos de júbilo, em nome do progresso e de um alinhamento com a Europa.
Este meu Observatório de avaliação pessoal e social permitiu-me, perceber quem mudou, indivíduos ou instituições (sempre geridas por pessoas), mas tornou-se mais difícil para mim perceber porque mudaram, para lá do óbvio.
Questionava-me e sempre me questionarei sobre que circunstâncias poderão dar aval, justificação, amparo a esses comportamentos, por vezes descaracterizador das pessoas.
A impossibilidade, a incapacidade de obter comprometimentos, em primeiro lugar connosco próprios, com a nossa Família, com a nossa Comunidade, o não sermos capazes de abraçar causas, defender posições de forma apaixonada, fazem com que ao longo da vida, haja de forma constante uma facilidade extrema em não ser rigoroso e integro com as nossas posições, paixões e admirações e dessa forma irmo-nos desvirtuando, descaracterizando.
HOJE, faria de novo o mesmo discurso, que me ensinou, de verdade que a liberdade de defender as nossas emoções e crenças, de forma constante, apenas e só nos trazem uma profunda integridade ao nosso quotidiano, permitindo que isso seja trazido para a Comunidade e que faça de cada um e nós um verdadeiro Testemunho da integridade e coerência que a nossa Vida tem que ter.
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