“Português lá fora (e aqui ao lado)”
Obrigado, Hugo, por me convidares a passar a formar parte dos autores convidados do teu blog.
Muito agradeço a sugestão do tema, que me ajudou refletir e a fazer um balanço da minha experiência e crescimento pessoal enquanto “Português lá fora (e aqui mesmo ao lado).
Diz-se que “de Espanha nem bom vento nem bom casamento” mas na realidade foi uma surpresa muito agradável, porque na vida, às vezes, o melhor é não ter expectativas e como diz a geração Z: deixar-se levar (“with the flow”).
E foi, precisamente, isso que aconteceu comigo e que vos quero contar. Pelo meio, quero ainda partilhar… enfim… tentar explicar… o orgulho e esse sentimento de “ser Português” que levo cá dentro.

A decisão de emigrar foi uma decisão não planeada e que surgiu de forma natural. Na altura estava a estudar em Coimbra, não estava contente com a faculdade, sentia que Coimbra era “pequena” e queria viver numa cidade mais movimentada e com mais oferta em todos os sentidos.
Além disso os meus melhores amigos estavam todos a estudar em Lisboa. Depois de dois anos seguidos a tentar mudar para Lisboa, com uma amiga da faculdade que também queria mudar e influenciados pela experiencia de colegas que estavam a fazer Erasmus na nossa faculdade, começámos a pensar em procurar opções no estrangeiro.
Esse foi o ponto de partida, estávamos já no terceiro ano e era importante mudar para uma universidade que nos desse equivalência às cadeiras que já tínhamos acabado. A internet ajudou imenso, encontrámos toda a informação necessária e contactamos com varias universidades. E foi assim que de forma natural o processo e a decisão de emigrar foi avançando, sem saber se se iria concretizar ou como iria acabar.
Espanha nunca foi uma primeira opção, preferíamos um país onde a língua de ensino fosse em Inglês. Na nossa lista estavam as universidades mais importantes de Medicina Veterinária como Londres e Amesterdão, mas não davam equivalências. Depois estava Madrid, onde nos disseram que era preciso um exame de Espanhol para passar o processo de seleção, ficou descartada automaticamente. Finalmente foi a Universidade Autónoma de Barcelona que reuniu todas as condições de que precisávamos, davam equivalências e não era preciso apresentar um exame de nível avançado em Espanhol (ou Catalão…).
Depois de começarmos a tratar dos papéis para apresentar a candidatura para a transferência, recordo que em março daquele ano, fomos visitar Barcelona e a faculdade, meses mais tarde em setembro recebemos a notícia de que tínhamos sido selecionados. Voltámos para procurar casa e em outubro de 2006 foi quando começou a aventura. A nível pessoal, era uma nova etapa da juventude e dos estudos, com data de inicio e fim, mas finalmente não foi assim… e ainda bem!
O motor da decisão, penso, estaria nesse espirito aventureiro e curioso que desconhecia ou não era consciente de que fazia parte da minha personalidade e maneira de ser. É isso mesmo: uma pessoa decide emigrar porque tem vontade de experimentar e de crescer, porque o que se tem naquele momento, talvez tenha ficado demasiado pequeno, e cresce essa insatisfação e ambição, de algo diferente, “maior” e porque não, algo melhor.
Mas nunca fui esse tipo de pessoa ou tive esse desdém ou complexo de inferioridade “porque aqui não se tem, em Portugal não há ou Portugal não faz”.
Ser Português, ter crescido num país plantado à beira mar – e poder passar as férias do verão na praia da Nazaré, estar no futebol praia no Pedrogão, ir para São Pedro de Moel sair à noite – viver com os valores e educação que recebi inerentes à nossa forma de ser e cultura como povo – e que o grupo de música favorito da minha adolescência são os Silence 4 e cantam a maior parte do tempo em Inglês, e amo o fado como música tradicional portuguesa –, tudo isso condiciona o tipo de pessoa e profissional em que me transformei e que sou atualmente.
Quero comparar Portugal com a academia do Sporting onde se criou e cresceu o Cristiano Ronaldo, o futebolista número 1 do Mundo. Quero pensar em Portugal como um cultivo de pessoas, e de profissionais, com um potencial enorme que ocupam cargos de chefia importantes em variadíssimas empresas multinacionais Top 10 de qualquer área.
Penso que emigrar (e pelo que vejo à minha volta falo) é uma tendência geral na sociedade Portuguesa de longa data, já seja por necessidade ou ambição, o povo Português gosta de explorar novos territórios (ou não fossemos nós grandes navegadores do século XV).
É com imenso orgulho que fico, quando ao longo da minha carreira tenho oportunidade de cruzar-me com conterrâneos ou quando me apresentam alguém e que comentam logo a seguir: “…és Português?! Na minha empresa há um/uma Português/Portuguesa…”
Para além da componente da ambição pessoal de querer sair além fronteiras e conhecer novas culturas, está a outra componente subjacente que é a ambição profissional.
Pela área geográfica que ocupa e pelo número de habitantes que tem, e coloco o caso de Espanha como poderia falar de qualquer outro dos Big 5 europeus, o organigrama das empresas que lá operam e os recursos e investimento na área da sua atividade, são significativamente maiores (até quatro vezes mais) comparado com Portugal.
Por essa razão, é natural que quem tenha ambição de crescer profissionalmente e liderar projetos de maior envergadura, possa aqui encontrar condições mais favoráveis, ainda que a concorrência de candidatos válidos para o fazer também aumenta proporcionalmente.
Mas a condição de emigrar para economias mais ricas nem sempre se cumpre, estão por exemplo países como o Brasil, Colômbia ou México, e que podem ter o mesmo número de oportunidades e atrativo que os países europeus, tudo depende do trade-off, das coisas que estamos dispostos a deixar para trás e a experiência que como indivíduos procuramos viver.
Tudo isto não invalida que no mercado de trabalho Português não existam boas oportunidades de crescimento! Poderá depender da estrutura empresarial, se é ou não uma empresa familiar, e da dimensão da própria empresa, factores que podem influenciar o ritmo de renovação dos seus quadros e a possibilidade, ou não, para aceder a cargos de chefia, que será, regra geral, um processo necessáriamente mais lento.
Recordo que em agosto de 2013, depois de 7 anos seguidos a viver em Barcelona (outra coisa de emigrante é que o tempo nos passa a correr e perdemos a noção dos anos que vivemos lá fora), e o meu manager me propôs mudar para sede da empresa em Porto Alegre, no Brasil; não pensei duas vezes no mês a seguir comecei uma nova aventura.
De novo para mim foi um processo que encarei com naturalidade e abracei a oportunidade que me tinham oferecido, aproveitei e disfrutei ao máximo. Nesse ano foi tudo mais intenso e concentrado, e o salto e crescimento pessoal, por ser uma realidade e um país tão diferente daquilo que estava acostumado foi sem dúvida exponencial.
Da mesma maneira que ser Português ajuda a definir quem sou, também ajuda a definir-me enquanto emigrante, com um pedaço de cada cidade onde vivi e uma parte da história das pessoas com quem me relacionei (e algumas guardo como grandes amigos).
Descobri que podia falar Inglês para além das aulas e sem nunca antes ter praticado com estrangeiros como eu, aprendi duas línguas novas que uso diariamente para além do Português. Vivi e trabalhei em vários países totalmente diferentes, abri o meu horizonte para o Europa e para o Mundo, ganhei o “bichinho de viajar”, conheci pessoas e culturas incríveis… o saldo é claramente positivo. Emigrar é bom e recomenda-se… quanto mais não seja porque nos obriga a sair da nossa zona de conforto!
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