Antes de mais começo por agradecer ao Hugo a oportunidade de poder escrever no seu blog, do qual tenho sido leitor interessado e cuja iniciativa admirei desde o princípio. Agradeço também a proposta do tema, uma vez que a escrita deste texto me ajudou a sistematizar e materializar algumas das ideias e conclusões que me assomaram nos últimos tempos.
Consigo identificar a minha ligação à ciência desde muito cedo na minha vida. Lembro-me bem de em criança ficar verdadeiramente fascinado com fenômenos, à altura inexplicáveis, como a atividade vulcânica, o tamanho das baleias ou a dimensão colossal das barragens. Na escola, fui também sempre mais atraído pelas disciplinas que iam de encontro a esses interesses. Física, Química e Matemática rapidamente se tornaram os tópicos preferidos e pelos quais despertei bastante curiosidade. A motivação manteve-se e chegado o momento de entrar no ensino superior a escolha foi surpreendentemente fácil, o que ainda hoje me espanta, dado o grande número de ofertas que à data existiam. Decidi estudar engenharia mecânica pela reconhecida versatilidade do curso e pela gama diversificada de temas abordados.
O curso tinha também uma faculdade associada, a FEUP. Foi esse o binómio que escolhi e que era o meu objetivo. Infelizmente, aquando da saída dos resultados fiquei a saber que não tinha sido colocado, tendo ficado de fora por desempate, uma vez que a minha nota de acesso era exatamente igual à do último colocado. Olhando para trás, reconheço que, naquele momento e por alguns dias, este pequeno incidente pareceu muito mais trágico do que realmente foi. A verdade é que reagi rapidamente e de forma bastante proativa. Percebi que com trabalho e dedicação conseguiria pedir transferência da Universidade do Minho (na qual tinha entrado) para a FEUP, obtendo um grande número de equivalências. Foquei-me nesse objetivo e concluí o primeiro ano com aproveitamento, tendo conseguido ingressar na FEUP no ano letivo seguinte.

O percurso na FEUP foi extraordinário. Por um lado, o ensino, que apesar de rigoroso e bastante teórico, confere um grande conjunto de habilidades aos seus alunos, capacitando-os para diversos tipos de desafios. Por outro lado, o ambiente académico é realmente muito especial e trago comigo muito boas recordações do percurso. Durante a minha formação tive a oportunidade de estar envolvido em atividades associativas, realizar um estágio de verão e também de integrar um grupo de investigação. Acabei por fazer a dissertação de mestrado no âmbito da mecânica do contacto computacional, mais concretamente estudando o impacto da rugosidade. Finalizada a dissertação surgiu a possibilidade de publicar os resultados obtidos e também a hipótese de prosseguir os estudos num programa doutoral.
Surgiu assim uma nova fase e uma decisão importante que teve de ser tomada: sair para o mercado de trabalho ou continuar os estudos por via do doutoramento. Para alguns costuma ser uma decisão relativamente fácil, pois conseguiram definir a sua pretensão ao longo do percurso académico. Por uma lado há quem claramente ambicione carreiras no tecido industrial e com uma orientação mais prática, por outro, há quem prefira ficar ligado à academia e porventura seguir uma atividade de investigação. No meu caso não consegui delinear assim tão bem as minhas opções, pela grande vontade que tinha e tenho de explorar ambos os lados e de sentir que a indústria e academia devem caminhar lado a lado. Gostava de experimentar o mundo corporativo e as várias vertentes que um engenheiro mecânico pode ter na indústria. Muitas são as áreas sob as quais me gostaria de debruçar, desde a produção, ao desenvolvimento e à gestão.
Não obstante, encontro num doutoramento muitas das coisas que me motivaram a gostar de ciência: a liberdade de pensar, de ter pensamento crítico, de resolver o irresolúvel e de alguma forma ter a ambição de deixar a minha contribuição para o mundo. É também uma oportunidade especial para aprender e aprofundar conhecimentos numa área do meu interesse e não só. A verdade é que o doutoramento permite aprender uma grande quantidade de competências facilmente transferíveis para o mercado de trabalho ou até outros contextos. É inevitável o aumento da capacidade comunicativa (oral e escrita), a gestão do tempo e o desenvolvimento de características mais pessoais como o controlo da frustração e o aumento da resiliência e paciência. Neste sentido há também uma ligação direta do esforço com a recompensa, uma vez que os frutos do trabalho são para usufruto próprio, um aspeto que muitas vezes falha no universo corporativo. Por fim acredito na valorização da carreira através de um doutoramento e acredito que existe e continuará a existir uma tendência pela procura de profissionais cada vez mais qualificados.
Quanto ao futuro, difícil será fazer previsões, mas gosto de acreditar que um doutoramento será sempre uma mais-valia e não o contrário. Existe um grande conjunto de oportunidades dentro e fora da engenharia para as quais estou disposto a arriscar, pois a verdade é que a vida é feita de capítulos e a formação não terá que ditar o meu percurso. A formação universitária é muito mais do que meramente teórica e as verdadeiras competências adquiridas são plurivalentes e mutáveis aos diferentes contextos.
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