Ponto 1.
O trabalho social levado a cabo pela Igreja Católica no seio da sociedade portuguesa é absolutamente indiscutível.
Nenhuma outra instituição se lhe compara nas inúmeras estruturas de solidariedade social espalhadas pelos mais variados cantos do nosso território.
São da Igreja uma percentagem muito significativa das IPSS de apoio aos idosos… São da Igreja as iniciativas mais relevantes de apoio a mães solteiras… São da igreja muitas iniciativas, concretas, de apoio a toxicodependentes em recuperação, como é exemplo o Projecto Homem1 que conheci de perto quando fazia parte do Conselho Municipal da Juventude em Vila Nova de Famalicão.
São da igreja um enorme conjunto de instituições de educação formal (creches, escolas, universidades) e não formal (CNE), com impacto na formação e crescimento pessoal de tantos de nós.
Como é, do seio da igreja, que nascem as Misericordias2 e as Caritas Diocesanas3 e o enorme papel que desempenham na nossa sociedade.
E a lista poderia continuar por muitas e muitas páginas…

O certo é que, em Portugal, o papel e relevância da Igreja Católica vão muito para lá dos seus fieis ou do culto propriamente dito. A sua intervenção, e impacto, social são incontornáveis complementando e, por vezes mesmo, substituindo o estado no apoio, e serviço, àqueles que mais precisam.
Ponto 2.
Os abusos sexuais perpetrados por membros da Igreja, em muitos casos, no âmbito das suas funções, envergonham todos os católicos e mancham uma igreja que é Santa mas cujos atores são humanos e, por isso mesmo, sujeitos ao erro.
Um só caso de um Padre abusador de menores, já seria demasiado… e, bem sabemos, que são bastantes mais que 1!…
É claro que estes abusadores não são a Igreja… são elementos daninhos que, no seu seio, se valeram de um certo ascendente dado pela sua condição, para praticar o mais hediondo dos crimes!…
E que o fizeram, alegadamente, de forma repetida ao longo de anos, a coberto do medo e da vergonha das suas vítimas.
E fizeram-no, ainda, a coberto do silencio de outros que sabendo não denunciaram… que sabendo escolheram “proteger a imagem” do abusador e da instituição, a proteger as vítimas indefesas e amedrontadas.
Agindo assim, abusadores e seus cúmplices, acabaram por fazer da Igreja uma vitima mais dos seus crimes.
Ponto 3.
É claro que estes crimes, de ação ou omissão, não são crimes da Igreja!… São crimes de quem os praticou… e estou convencido que a famosa “lista” é apenas a ponta de um enorme Iceberg.
É claro que estes crimes, cometidos por homens, não apagam a extraordinária obra da Igreja…
Mas, é também claro, que a responsabilizam no sentido de, não apenas, tirar as devidas consequências para com aqueles que a mancharam, como também de criar as condições necessárias para que estas práticas não se possam repetir no futuro.
E é aqui que nós, Católicos, precisamos de ser muito mais exigentes para com a Igreja!… O comunicado4, e posteriores declarações5, emitido na sexta-feira pela Conferência Episcopal Portuguesa é manifestamente insuficiente.
Não senhores Bispos… não basta falar de “Tolerância Zero” e apresentar uma mão cheia de nada de medidas concretas e imediatas.
Não senhores Bispos… isto não é apenas uma lista de nomes5… que diz “qualquer coisa”5… é uma evidencia clara de abusos hediondos cometidos por membros da Igreja, que não podem continuar em funções. Como pode a Igreja assegurar que está com as vítimas mantendo os seus abusadores nas posições em que estavam.
Não senhores Bispos… Isto não é um assunto que deva estar à descrição de cada diocese… nem é um tema para secretismos ou meias palavras. Este é um tema que requer uma resposta firme, coordenada, nacional, que deixe clara essa tal tolerância zero anunciada.
Este não é, ainda, um caso onde seja aceitável invocar uma espera pela justiça civil para que se tomem medidas concretas.
À mulher de César não basta ser séria, tem de parecer séria!… É, pois, tempo de entenderem, e aceitarem, que estão sob escrutínio apertado por parte dos fiéis e que, qualquer “neblina” no processo, levantará suspeitas de um protecionismo inaceitável, afastando-os mais e mais das vossas igrejas.
Não senhores Bispos… as vítimas não podem estar sujeitas a manobras desses criminosos, que evitem o pagamento de eventuais indemnizações… Estar ao lado das vítimas significa, também, assegurar que nenhuma deixará de ter aquilo a que tem direito, esteja o seu abusador vivo ou morto… tenha ou não tenha o dinheiro… queira ou não queira pagar!…
Não se trata de cumprir a lei!… Este não é um assunto meramente legal!… É um assunto do âmbito da moral… da nossa moral forjada nos valores e na cultura Cristã, ao longo dos seculos.
Finalmente
Defender a Igreja não é fazer pequeno o crime e o escândalo atual… defender a igreja é transparentá-lo… é não descansar enquanto toda a verdade não for descoberta… é proteger as vitimas e responsabilizar os criminosos… e é dotar a Igreja de um maior e mais apertado escrutínio sobre todos os seus atores, para que tais situações não voltem a acontecer.
Neste ponto, a Igreja (e os seus Bispos) deu o primeiro passo ao pedir a formação da Comissão independente… deu o segundo ao pedir às vítimas que denunciem e ao anunciar novas medidas para aprofundamento das investigações…
Falta agora, demonstrar que sabe ser consequente, e rápida, a responder às conclusões das mesmas… sendo que, esta sexta-feira, foi perdida uma importante oportunidade para esta demonstração.
A história trouxe-vos a oportunidade de serem exemplo, num momento de grande seriedade e importância… e eu confio que… no final… sereis capazes de estar à altura dos acontecimentos!
Que assim seja!
#SociedadePortugal #ActualidadePortugal #PoliticaPortugal
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É hora de agir,e,castigar quem deve ser castigado. E,sim,a Igreja está acima de tudo.
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Abraço, Alcino!
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Muito bom Hugo! 100% de acordo contigo!
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Obrigado Sofia. beijinhos
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